Desculpa se te chamo de amor...

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Mofo.



Passei anos, longos anos da minha vida, lutando por você, lutando por memórias de você, lutando por fantasias de você, lutando contra você. Não lembro da minha vida antes de você, por que você se fazia presente mesmo quando eu ainda era um bebê – e você, por mais estúpido que seja, deve deduzir que bebês não retém memórias. É impossível, pra mim, lembrar do meu passado, sem ter alguma marca sua, por menor que seja, nele. Eu odeio reviver meu passado. Minha infância, minha pré-adolescência e até lá pros meus 17 anos, são coisas que eu não gosto de tirar de dentro da caixa que está em cima do armário mais alto que eu achei dentro de mim. Tenho alergia ao mofo, ao velho.
Lembro de quando eu era muito, mas muito pequena mesmo, talvez uns 4, 5 anos, e meu “namoradinho”, naquela época, não era nenhum coleguinha meu da escola. Era você. Eu me orgulhava de ser você. Aos 6, nos separaram por que nos pegaram fazendo coisas que os outros julgavam como erradas, para duas pessoinhas da nossa idade – eu com seis, e você com 10 – e para o nosso grau de parentesco. Dos três anos que eu fiquei sem te ver, jurava de pé juntos que não, já tinha passado. Mal lembrava de você, estava mais preocupada em passar de ano em matemática, do que saber se eu ainda tinha algum espaço dentro de você. Até o maldito dia que a gente voltou a se encontrar, no natal, na casa da nossa avó. Ali eu soube que não importava o que acontecia: eu estaria extremamente ferrada pelo o que eu julgava estar morto dentro de mim, por bons anos da minha vida. Nossa relação não era mais a mesma, agora exista muito medo e receio de que algum adulto imbecil nos separasse de novo, e todo passo que nós dávamos, era sempre muito bem calculado. Mas lá estava eu outra vez, a mesma de sempre. Os mesmos medos, os mesmos sonhos, o mesmo sentimento. E lá estava você: diferente.
Depois disso, dos doze aos dezessete, foram todos uma sucessão de erros: meu primeiro beijo trancada num quarto com você, com medo, pega de surpresa e mais assustada ainda com o fato de ter sido empurrada naquela cama ao lado da parede e só ter conseguido me livrar de você quando te empurrei e saí correndo destrancando todas as portas possíveis, mas trancando a do banheiro, aonde fiquei por longos minutos encarando meu reflexo no espelho sem saber direito o que pensar e o que sentir. Mas meu inconsciente processava direitinho a informação: metade do sonho já tinha sido destruído. O nome disso era expectativa; o nome disso era ilusão. Era isso então o que acontecia com as pessoas que sonhavam demais, liam livros e contos-de-fada demais. Não tinha sido como nos livros, não tinha sido como eu queria. Nunca foi.
Eu então, resolvi me afastar de você, nunca foi do meu feitio ser forçada à fazer as coisas, e eu não deixaria meu inconsciente processar a mesma informação que antes, de novo. Mas, mesmo afastada, mesmo te odiando por motivos pequenos e imbecis, eu ainda revivia a história que eu mesma inventei, de que um dia você ia perceber o quão idiota tinha sido naqueles anos, e ia ser o cara que eu fantasiava. Eu não tinha noção, nessa época, que são raríssimas as fantasias que se tornam realidade e que muitas pessoas não mudam. Você sempre foi uma delas.
Passei noites sonhando com um você que não existia na minha realidade, um você que eu desejava ser bom, carinhoso e que fazia por merecer cada sorriso meu. Mas tudo o que você fez por merecer, foram minhas lágrimas. Inclusive quando você casou e logo em seguida, sua namorada engravidou. Chorei, quis me dar um milhão e meio de murros na cara, me questionei do porque eu ter que passar por tudo aquilo, até que eu cansei. Sabia que eu era boa demais pra sofrer por alguém tão ruim quanto você. Decidi te esquecer pra sempre, e eu nunca poderia pensar que te esquecer poderia ser tão fácil. Você não me deixou nada de bom, foram – contando minha infância – dezessete anos, e nenhuma memória boa. Nenhum diálogo bom, nenhum carinho, nada. As únicas coisas que você me deixou foram o medo, a insegurança, a maturidade, a certeza de que água e óleo não se misturam, literalmente e que talvez eu seja realmente um tipo diferente, que merece um tipo diferente pra ficar junto, e não um tipo comum, como você.
A lição mais importante que eu aprendi de tudo isso é que sim, o passado machuca. Mas eu tinha duas saídas: ou eu fugia ou eu ficava, encarava e aprendia com isso. Eu arrisquei, me machuquei, sofri, caí na realidade, encarei e aprendi. Hoje, eu estou bem. Apesar da minha baixa auto-estima, da minha insegurança e de ter a leve impressão que ficarei sozinha pra sempre, hoje, o que eu nunca achei que poderia acontecer, aconteceu da maneira mais fácil e simples que poderia existir: hoje, eu estou vacinada de você.

11 comentários:

  1. Nossa, isso tudo parece com uma história que aconteceu comigo. O grau de parentesco, a inseguranças, medos, depois a distância, alguns erros.
    Talvez fantasiar seja um defeito de quem "ler livros demais, contos-de fada demais".
    Acho que o que ainda me falta é a coragem de parar de revirar a caixinha com todas essas lembranças, e definitivamente seguir em frente.
    Mesmo tendo "a leve impressão que ficarei sozinha pra sempre". ^^
    Texto incrível, história incrível.

    P.s.: Vir aqui me faz tão, tão bem! Sempre aprendo algo novo. E você é uma linda! Pode deixar, espero postar ainda hoje.
    Mil beijos flor.

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  2. Nem toda história de amor é perfeita... Sempre esquecem de explicar isso nos contos de fadas, neh? Acho que aprendizado é ter a consciência de que nem tudo é feito pra dar certo, mas que nem por isso é impossivel ser feliz indo por outros caminhos.

    :) Lindo texto!

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  3. Não sei se acho uma luta justa, mas gostei do que li, tenha uma seman boa, beijos !!!

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  4. Falam que amor de primos é para sempre...

    "Deixa o amanhã dizer..."

    Beijos.

    ℓυηα

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  5. AHHHH! Eu tive uma paixonite por um primo! Mas nada assim! Nossa! Que foda... Eu acho que voce deveria tentar! :x

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  6. Acabou mofando?!
    Acontece, tá na hora de trocar os lençóis então.. e deixar que o cheiro não se alastre.

    Minha linda,
    obrigada muito pela sua força.
    Você é demais querida, beijos e pode contar comigo ein!

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  7. O mais importante é a lição que aprendeste no fim. Apenas isso é valido.

    Beijos

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  8. Nem todo amor é perfeito, nem toda lembrança
    é boa. Muitas das vezes fantasiamos histórias
    e nos deixamos ilusionadas nelas, machucando-nos.
    Mas se o momento de ser amada como merece ainda
    não chegou, não se culpe, e não pense que nunca
    chegará, pois tudo acontecerá na hora certa.
    E ao acontecer, a recompessa será muito melhor, acredite !
    então deixe esse mofo todo pra traz e viva menina :)
    bjs flor ;*

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  9. eu amei seu texto
    mas esse amor mofou, acabou
    dê baixa nele e se supere
    eh como eu sempre digo
    o amor verdadeiro nunca acaba e se acabou é porque nao era de verdade
    hehe

    Beijosss

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  10. Isa, existem passados que irão povoar para sempre a nossa memória, e em alguns momentos vamos nos sentir marcados por ele, mas o tempo passa e as coisas perdem a importância, e isso aconteceu com o que você sentia, por provavelmente seu primo né?
    Um abraço minha querida.

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  11. Quem nunca teve um amor assim? Enriquece de alguma forma nossa estória.
    Flor, não tô conseguindo postar aqui!!!! Que desespero! Leio sempre que tu posta e não dá pra comentar!!!
    Tô sempre, sempre aqui!
    Saudade,
    Bjo

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