Desculpa se te chamo de amor...

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A letra "A" do seu nome.



Não lembro ao certo, como fui parar no seu consultório.
Só sei que, desde meus oito anos, essa era a minha rotina: pular de um consultório pro outro, de uma psicóloga pra outra, de um diagnóstico pra outro.
Sempre as mesmas queixas, era sempre eu quem não obedecia, era sempre eu a errada, era sempre eu quem via coisas que não existiam, era sempre eu a excluída. E de fato, sempre - e isso é algo que me acompanha até hoje - fui a excluída. Mas hoje, eu entendo que não é um excluído totalmente ruim, tem seus momentos bons, também.
Enfim, o que eu quero dizer é que, nossa, a vida é irônica. A gente sempre imagina que sua figura de apego, aquilo/aquele que vai te fazer sentir segura, te dar estabilidade e dizer que vai ficar tudo bem, é a sua mãe, ou sua avó. No máximo, seu pai. Mas eu já deveria esperar diferente, né? As coisas na minha vida sempre foram bagunçadas e, tanto eu, quanto você, sabemos que a minha "figura de apego" não poderia ser minha mãe. Ou minha avó. Muito menos, meu pai.
E eu disse que a vida é irônica, por que, quando eu comecei nessa de, pular de um consultório para o outro, eu odiava psicólogos, psicologia, Freud e todos os seus derivados. Queria ver o capeta na minha frente, mas não uma psicóloga, ou qualquer pessoa que tivesse ligação com essa "ceita".
Porém, essa quinta feira agora, eu tive certeza de uma coisa: não existe uma pessoa no mundo que me entenda tão bem quanto você entende.
Você foi a única a não me julgar, a única que nunca me colocou pra baixo, a única que não achou que meus medos eram besteiras, a única que, quando achava - acho e acharei - que estava tudo perdido, foi lá, e me disse que não é bem assim, que ia ficar tudo bem.
A gente falou de amor, quinta passada. Eu gosto dos meus pais, gosto dos meus irmãos, já gostei de mais gente, ainda gosto de alguns. Mas machuca gostar deles todos. É quase como um fardo. Mas, a coisa mais fácil do mundo, é amar você. É fácil, é simples. Não precisa de nada, só amar e pronto, acabou. Acho que é o mais próximo do amor que eu cheguei, em 19 anos viva.
E, lá em cima, quando eu disse que a vida é irônica, foi por que hoje, eu faço o mesmo curso que você fez, há 20 anos atrás, pra tentar, 20 anos pra frente, ser metade do que você é. E por que, hoje, se eu me desespero, se eu acho que nada mais vai dar certo, que tá tudo errado, que não é aqui, não é agora, não é esse lugar, eu faço a corrida inversa àquela que eu fiz 11 anos atrás. Eu não corro de uma psicóloga, eu corro pra uma psicóloga. Eu corro pro meu porto-seguro.
Tem gente, que diz que não dá pra nomear sentimentos. Pode até ser verdade.
Mas, a minha gratidão, têm nome: Angela.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

À primeira vista.



Preciso parar com isso, de acreditar que coisas extraordinárias podem acontecer na minha vida a qualquer instante. Nunca ganharei na mega-sena, nunca serei heroína por salvar alguém que estava se afogando, não terei uma morte trágica, como um acidente de avião. Coisas extraordinárias não acontecem na minha vida. Você não vai acontecer na minha vida.
Veja bem, vamos analisar. À primeira vista, eu não passo de alguém com seus vinte e poucos anos, alguns sonhos, todas as inseguranças, talvez nenhum objetivo a ser cumprido nos próximos meses ou anos, um sorriso no rosto - sempre - e fugindo um pouco do padrão hoje imposto.
À segunda vista, porém, se você fizer uma análise, você vai constar que, realmente, eu sou alguém com seus vinte e poucos anos, com todas as inseguranças, porém, com mil e um objetivos, mil e um sonhos, mil e uma fantasias, mil e um jeitos de me interagir com qualquer tipo de criança, em qualquer lugar. Vai perceber também, que é impressionante o modo como eu achei um jeito de explicar o que aconteceu em relação à você: não gosto de ninguém mas, de repente, escapa um momento, um gesto, uma pessoa perdida, linda e única. Você. E eu fico acreditando que eu sou capaz de ser uma pessoa boa, e ser capaz de receber essas coisas boas. Mas pode ficar tranquilo, que isso não dura muito, não. Minha consciência berra dentro de mim, me puxa a todo custo de volta pra minha realidade aonde ninguém percebe, ninguém entende, ninguém vê, ninguém sente.
O que eu quero te dizer é que, eu tenho muito, muito mesmo, dentro de mim. Coisas puras, inocentes e verdadeiras, e, te juro: não quero mais dar, sem receber nada em troca. Não funciona mais, essa coisa bonita, de dar sem receber. Isso funciona em rezas, histórias de santos e demais seres evoluídos do planeta.
Não que eu esteja te cobrando algo, longe de mim, não te conheço e tudo o que você sabe sobre mim, é que, quando eu espirro, o som emitido é fraquinho. Só queria desabafar. É que é chato entregar seu sorriso de bandeja pra qualquer um, sabe?

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Branco e Preto



Andei pensando (pra variar) durante dias, e tive a leve sensação de que vivo numa vida em branco e preto aonde eu, no máximo, faço uma aparição aqui, outra ali, mas que, na maioria das vezes, não basta de figuração. Aquela história de figuração na vida real, sabe? Isso mesmo. E nessa vida que eu vou levando - não sei há quanto tempo, mas mesmo assim, vou levando - algumas pessoas se destacam. Algumas pessoas têm cor, e participações especiais. Não na minha vida em preto e branco, mas no cenário, em si. É aquela coisa, né? A vida está aí, não para nunca, e algumas pessoas nasceram pra se destacar, pra fazer a diferença, pra se fazer notar, pra se fazer ter cor. Outras, simplesmente estão de figurantes, pra não deixar a tela muito vazia. Você pode se sentir vazia. A tela, não, nunca. E como eu ia dizendo, algumas pessoas tem cores. Como aquele moço sendo extremamente educado com um funcionário, o que fez com que, aos meus olhos, ele ganhasse cor na hora. Ou então, aquela velhinha fofa atravessando a rua, e sorrindo até pra árvore. E até mesmo você. Ainda não consegui entender exatamente de onde sai sua cor, por que você tem cor, por que você não é figurante. Tá, pode até ser pra outras pessoas, mas pra mim, você é quase como um protagonista desses que a gente gasta dinheiro no cinema, só pra ter o gostinho de ver. Esqueço a sua voz 10 minutos após ouvi-la, e quase esqueço que você existe, depois de alguns dias. Mas sabe aquela história da raposa? "No início, você se sentará um pouco longe de mim, assim, na grama. Eu olharei pra você com o canto dos olhos, e você não dirá nada. As palavras são uma fonte de mal-entendidos. Mas a cada dia você poderá se sentar um pouco mais perto...Se você vier, por exemplo, todas as tardes, às quatro, a partir das três eu começarei a ser feliz. Com o passar da hora, a minha felicidade vai aumentar. Quando chegarem as quatro horas, começarei a me agitar e a me inquietar; descobrirei então, o preço da felicidade. Mas, se você vem a qualquer hora, eu não saberei nunca a que horas devo preparar o meu coração...São necessários rituais."
Sim. São necessários rituais. Meu ritual em relação à você, não passa de um simples sorriso e uma pergunta que eu faço todas as manhãs pro porteiro da minha faculdade: "Oi, tudo bem?". Mas conto os dias da semana, e, quando o dia realmente chega, arquiteto planos e histórias na minha cabeça de fantasias, querendo, bem no fundo, que você tenha também, um ritual quando se trata de mim. Que você não necessariamente conte os dias da semana, ou as horas, afinal, imagino que isso seja coisa de mulher, mas que você saiba que, ao sair dali, a pessoa sentada vai ser eu, que vai te olhar, sorrir e fazer aquela pergunta cretina, que você sinta aquela adrenalina no pico mais alto, e logo depois, ela descendo, descendo, e você se sentindo no branco e preto, mais uma vez. Mas você não deve se sentir no branco e preto, né? Mesmo que você se sinta, ou mesmo que você seja, pra mim, você tem as cores mais radiantes do mundo. E eu não sei por quê.