Desculpa se te chamo de amor...

domingo, 23 de janeiro de 2011

Pedido de socorro.




São momentos como esse que me fazem pensar em você, o dono dessa pontinha colorida nessa imensidão cinza. Quinze minutos antes, quando fui lembrada que, por mais que eu dê a moto que ele tanto deseja, um pulmão novo que ela tanto diz precisar, um remédio que tirasse todos os medos dele e agisse como o outro ele gostaria – me calando, sempre – eu ainda seguiria sendo a pior das piores. Aquela que não aceita nada, aquela que bate de frente, aquela que fala, aquela que precisa de mais 60 anos de terapia, aquela que acha que nada está bom, aquela errada. Mas eu nunca seria aquela que não tem uma única memória feliz da infância por erros deles, aquela que enfrentou medos sozinha porque sabia que não teria aonde se apoiar, aquela que faz o papel dela, o papel dele, aquela que nunca foi cuidada, mas sempre cuidou. Assim que, mais uma vez, a verdade sobre como eles me vêem veio à tona, subi correndo pro meu quarto, desejando muito pra ser surda e não ter que escutar nada do que diziam de mim, degrau por degrau. Cheguei aqui, e fiquei alguns minutos olhando fixamente para a rua da minha casa, esperando o seu carro aparecer ali no meu portão, eu correr assim mesmo – de pijamas e descalça – pra você, pedir pra que acelerasse e pronto: eu estaria, nem que por uma noite, fora do meu inferno caseiro. Mas tudo o que eu senti foi o vento bater no meu rosto e, tudo o que eu ouvi, foi o som alto da casa da frente. Corro pro computador, abro meu email, na esperança de que haja algum seu, por lá. Não, eu sei, você não tem meu email. Mas você é alguém de cargo importante na justiça, talvez pudesse ter mexido seus pauzinhos para conseguir. Então, pego meu celular na esperança de ter uma ligação de algum número desconhecido, retornar e ser você. Mas não. Nenhum carro, nenhum email, nenhuma ligação, nenhum pontinho colorido na imensidão cinza, nenhuma mão pra eu segurar, nenhum abraço pra que eu possa chorar, nem se quer um resquício seu, porque eu fiz você chegar no seu limite. O limite da minha realidade. Você só começa a ter limite, na minha realidade, aonde você não se faz presente, diferentemente de toda a sua presença na minha cabeça. Então, não se resta outra escolha a não ser engolir todos os nomes que ouvi deles, todas as coisas que eles julgam ser a verdade, tentar continuar vivendo no meio de pessoas que eu não reconheço. Com você na minha cabeça, se torna até um pouco mais fácil, mas ainda assim é muito difícil porque, solidão, é ter muito o que dizer mas não ter com quem falar. Então, vou desejando, um dia, ter você pra ligar, ter seu abraço pra chorar, ter seu carro pra correr com o que quer que eu esteja vestindo, ter você pra me salvar.

17 comentários:

  1. Que encantador!!!

    A verdade dói, não é? Infelizmente dói, mas é sempre melhor!!

    "ter você pra me salvar." ---> Perfeitooo!!

    s2

    bjooo

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  2. A realidade é tão dura quando reservamos tudo de bom pras ilusões! Minha vida caseira já foi um inferno e ainda hoje não é o paraíso. Confesso que ter alguém com quem fugir é um grande alívio às vezes, mas não é a solução de todos os problemas. Na verdade, fugir só faz uma pausa na realidade dura, onde depois você é obrigada a entrar de novo.

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  3. O amor é uma palavra de fé em meio ao silêncio e a escuridão assim como a música da vida que é o bater do seu coração.

    Fugir é uma saída nunca a solução.

    Melhores dias para ti. Abraços!

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  4. Eu já disse algumas vezes, mas volto a dizer a combinação do lindo e triste não deveria combinar, mas combina. Seu texto é mais um prova disso...
    É triste todas essas expectativas, é triste pensar que elas podem nunca serem realizadas, mas é bonito saber que conseguimos amar alguém assim.

    Gostei do blog!


    Beijo!

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  5. Dá pra sentir a verdade na dor que tu descreves. E às vezes o que mais precisamos uma anestesia, um analgésica. Exatamente esse pontinho colorido na imensidão cinza.
    E palavras, intencionais ou não, que deveriam ser ouvidas ou não, secretas ou públicas, nos machucam de maneiras inimagináveis. Só espero que o tempo cure ou cicatrize essa ferida.

    =*

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  6. Amiga, saudades também....

    Lindo texto.

    Bjoss!!!!

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  7. Olá querida.
    Eu estou bem sim, toda essa tragédia que tem acontecido no Rio foi na Região Serrana, bem longe de onde eu moro, graças a Deus. Mas, obrigada por perguntar.
    Quanto ao seu texto, disseram-me certa vez que nossos melhores textos saem quando estamos triste, pois quando estamos felizes não queremos escrever a felicidade e sim vivê-la.
    Embora seja um texto triste, (um desabafo, eu acho) ficou tão tão belo.
    As vezes o que mais queremos é mesmo um refúgio, com alguém que nos faz bem. Mas, por vezes, resta apenas enfrentar a realidade e superá-la por impossível que pareça ser.
    Grande beijo, Isa.
    Você é uma linda!

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  8. Lindo d+.
    Curiosidade: trata-se somente de ficção?

    Beijos.

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  9. Coisas vem à tona, mas será que precisamos mesmo de alguem para nos salvar..
    as vezes precisamos de nós mesmos somente !

    bjs.

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  10. Eu adoro os seus textos. Você escreve com uma clareza maravilhosa, ler seus textos faz muito bem a qualquer pessoa. Espero sempre poder ler textos assim! Beijão!

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  11. Lindo, texto.
    Adoro o jeito como você fala "dele".

    Fiz uma indicação ao seu blog!
    É só dá uma olhada no link:

    http://guriamagricela.blogspot.com/2011/02/meu-selo.html

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  12. essa historia de amor é muito complicado!

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  13. Olá, boa semana para você!
    Sempre é bom ler seus textos..!!!!

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  14. Tem outra indicação no meu blog pra você!

    http://guriamagricela.blogspot.com/2011/02/selos-e-agradecimentos.html

    Beijos

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  15. Isa,

    "solidão, é ter muito o que dizer mas não ter com quem falar."

    Bela, linda e VERDADEIRA definição como tua escrita que penso reflete VOCÊ.

    SEMPRE bom vir aqui.

    Beijos,

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