
Não lembro ao certo, como fui parar no seu consultório.
Só sei que, desde meus oito anos, essa era a minha rotina: pular de um consultório pro outro, de uma psicóloga pra outra, de um diagnóstico pra outro.
Sempre as mesmas queixas, era sempre eu quem não obedecia, era sempre eu a errada, era sempre eu quem via coisas que não existiam, era sempre eu a excluída. E de fato, sempre - e isso é algo que me acompanha até hoje - fui a excluída. Mas hoje, eu entendo que não é um excluído totalmente ruim, tem seus momentos bons, também.
Enfim, o que eu quero dizer é que, nossa, a vida é irônica. A gente sempre imagina que sua figura de apego, aquilo/aquele que vai te fazer sentir segura, te dar estabilidade e dizer que vai ficar tudo bem, é a sua mãe, ou sua avó. No máximo, seu pai. Mas eu já deveria esperar diferente, né? As coisas na minha vida sempre foram bagunçadas e, tanto eu, quanto você, sabemos que a minha "figura de apego" não poderia ser minha mãe. Ou minha avó. Muito menos, meu pai.
E eu disse que a vida é irônica, por que, quando eu comecei nessa de, pular de um consultório para o outro, eu odiava psicólogos, psicologia, Freud e todos os seus derivados. Queria ver o capeta na minha frente, mas não uma psicóloga, ou qualquer pessoa que tivesse ligação com essa "ceita".
Porém, essa quinta feira agora, eu tive certeza de uma coisa: não existe uma pessoa no mundo que me entenda tão bem quanto você entende.
Você foi a única a não me julgar, a única que nunca me colocou pra baixo, a única que não achou que meus medos eram besteiras, a única que, quando achava - acho e acharei - que estava tudo perdido, foi lá, e me disse que não é bem assim, que ia ficar tudo bem.
A gente falou de amor, quinta passada. Eu gosto dos meus pais, gosto dos meus irmãos, já gostei de mais gente, ainda gosto de alguns. Mas machuca gostar deles todos. É quase como um fardo. Mas, a coisa mais fácil do mundo, é amar você. É fácil, é simples. Não precisa de nada, só amar e pronto, acabou. Acho que é o mais próximo do amor que eu cheguei, em 19 anos viva.
E, lá em cima, quando eu disse que a vida é irônica, foi por que hoje, eu faço o mesmo curso que você fez, há 20 anos atrás, pra tentar, 20 anos pra frente, ser metade do que você é. E por que, hoje, se eu me desespero, se eu acho que nada mais vai dar certo, que tá tudo errado, que não é aqui, não é agora, não é esse lugar, eu faço a corrida inversa àquela que eu fiz 11 anos atrás. Eu não corro de uma psicóloga, eu corro pra uma psicóloga. Eu corro pro meu porto-seguro.
Tem gente, que diz que não dá pra nomear sentimentos. Pode até ser verdade.
Mas, a minha gratidão, têm nome: Angela.