Desculpa se te chamo de amor...

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Acabou.



Não sei lidar com o fim de nada, por mais que eu saiba que tudo chega ao fim, um dia e por mais que eu saiba que eu tenho que me livrar de certas coisas que já tiveram seu fim decretado. Sempre penso no fim de tudo, quase nunca cogito o começo mas, mesmo assim, quando o fim chega, é como se eu nunca tivesse nem passado perto de pensar em como seria; é sempre doloroso, sempre além de mim.
O último dia do ano. Escuto pessoas fazendo planos, dizendo quais são suas expectativas e tudo o que eu quero fazer é me isolar e curtir meu desespero catatônico sozinha, sem nenhuma voz que me atrapalhe. Sentir essa vontade de sair correndo sem nem ao menos me mexer. Dez para meia noite e os fogos começam nas casas mais próximas. Olho em volta, e vejo todos sorrindo e tirando fotos como se isso fosse um momento histórico. Eu simplesmente sumo. Desapareço. E então começam com o sarcasmo um tanto quanto velho, em relação à mim: “Deixa, ela é assim mesmo...Adora estragar as coisas”. Um desespero toma conta de mim e eu sei que não é o tipo de desespero que me faz querer uma caixa inteira de calmantes, minha psicóloga, ou ele, que fez com que eu me acalmasse tanto durante o ano, mas hoje pareceu incrivelmente inatingível. Vejo meu celular no canto do banheiro, e sinto um segundo de paz. Eu ainda posso ir embora. Mas ir embora da onde? Eu sempre quero ir embora. Mas eu sempre esqueço que é impossível ir embora de mim mesma.
Saio correndo do banheiro e vou pra praia. Mesmo estando ao lado de todos, ainda consigo ficar totalmente isolada de toda aquela felicidade, e me concentro em fingir que estou rezando, para que ninguém chegue perto de mim. Sinto um enjôo que não me faz passar mal, um frio que não me faz querer um agasalho, uma necessidade de ir pra algum lugar que eu não tenho a mínina noção de qual seja e uma saudade de uma vida inteira, como se eu já tivesse vivido-a. Me afasto um pouco mais, e aperto meu celular. Algumas mensagens, algumas ligações que eu não atendi e não atenderei. Meu desespero não se acabará com desejos de coisas boas e bonitas pra mim, de pessoas nem tão boas e bonitas que estão em minha vida. “Chama a Isa, vamos mais pra frente, que dá pra ver melhor os fogos”. “Não, deixa ela”. “Manda, pelo menos, ela colocar um sorriso no rosto”. Fico escutando os outros, escutando os fogos e sei que, enquanto ficar nesse tipo de escuta, tudo isso não vai passar. Preciso me escutar, mas não tenho nada pra me dizer. Só o vão desses pensamentos, só esse intervalo de motivos, só o cochilo do imbecil que mora na minha cabeça e faz eu ter meus minutos de loucura. Só esse bueiro vazio embaixo da vida. Só os 365 dias passados em branco.
“Viu, o DJ bem que poderia colocar a sinfonia número 5, né?” E escuto meu irmão, esse serzinho de só 11 anos rir. Tenho vontade de explicar pra ele que, de madrugada, às 5 da manhã, ouvindo música clássica, torço com todas as forças pra que essa toque. Pra mim, ela sempre explica muito bem o fim das coisas. Mas logo lembro que ele só tem onze anos e lembro também que sou uma imbecil por sair de casa logo em um dos dias em que tenho mais pânico no ano. Mas se eu ousar dizer isso pra alguém, vão dizer que eu posso continuar indo mais trinta anos na terapia, que eu continuarei sendo cheia de falhas. Então, só me afasto. Não quero nada nem ninguém.
Pronto, virou o ano. Tenho vontade de subir em cima da mesa e berrar que estamos todos morrendo. Acabou, está acabando e vai acabar. Quero sair gritando que fodeu. Ao invés disso, me concentro em querer sentir muito amor dentro de mim, em amar as pessoas desse meu jeito enorme e grosseiro que sei, sem querer nada em troca. Mas não faço nada disso. Apenas sorrio, como se eu fosse a pessoa mais feliz do mundo, ao som do chiclete com banana. E é como se o diabo estivesse ali, me filmando e rindo de mim, só pra eu sempre saber como eu me traio pra jamais sucumbir à minha estranheza e o quanto deixo de assustas os outros com a minha loucura. Respiro fundo e tento me acalmar, sabendo que daqui a pouco todos estarão bêbados ou dormindo e eu então, poderei ser eu mesma como eu bem entender. Quando todos acabam de comemorar o fim do ano, eu começo a comemorar o fim da comemoração do fim do ano.
É isso. Simplesmente não sei ser feliz com os finais que chegam, mas sempre dou um jeito de aproveitar quando sou eu quem chega ao fim.

14 comentários:

  1. Amiga, Feliz Ano Novo! Amei o texto!

    Bjs

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  2. Maisor verdade desse texto: Não dá pra fugir de si mesma. Às vezes simplesmente odiar tudo pareceuma ótima forma de se dizer descontente, incompreendida, infeliz. Mas, com toda a experiência que tenho disso (que não é pouca!), aprendi que se comportar assim não adianta absolutamente nada! Você não se sente melhor, os outros não se sentem pior, nada! Você apenas perde mais um momento odiando, por ser mais confortavel,por não achar que merece coisa melhor. É assim.

    Desejo renovações nesse novo ano. De dentro pra fora!

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  3. Textos de começo de ano sempre são valiosos. No final desse ano, aposto que você vai acabar lendo o que escreveu hoje e vai ficar feliz. Feliz porque vai poder perceber as mudanças que você teve, o que te fez bem e o que você tem, ainda pra mudar. É otimo estar nesse ritmo de mudança. Em todo caso, agradeço pelo carinho no meu blog, de verdade.. Um ótimo ano pra todos nós e um grande beijo,

    Pedro.

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  4. Nesse final de ano me senti estranhamente plena. É uma sensação tão nova que nem sei ainda lidar com ela, já que aquele certo desespero era sempre meu companheiro, também...

    Feliz ano novo, flor, seja como for, e um beijo meu.

    ℓυηα

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  5. Acho que o seu texto tá um pouco pessimista, ou sético, enfim triste...
    parece que vc traz a tristeza dentro de si e não acredita que nada possa mudar isso e não é verdade...
    eu até acho que as coisas podem mudar, mas temos que fazer acontecer...
    espero que vc não esteja triste e seja apenas um texto...

    Vim para lhe desejar uma boa Quarta!
    :)

    “Não importa onde você parou...
    Em que momento da vida você cansou...
    O que importa é que sempre é possível recomeçar.
    Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo...
    É renovar as esperanças na vida e,
    o mais importante...
    Acreditar em você de novo” (Drummond)

    Bj♥s na Alma!

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  6. Ai como o fim dói mesmo :(
    eu tambem não sei lidar, mas juro que um dia aprendo.

    MULHER QUE SAUDADE DE TU.
    espero que esteja bem apesar de tudo.

    bjs.

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  7. Oi La Belle,
    Só há recomeços por causa dos finais.
    Bjs

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  8. Eu prefiro ver os fins como a oportunidade de um novo começo.

    Beijos

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  9. "Sinto um enjôo que não me faz passar mal, um frio que não me faz querer um agasalho, uma necessidade de ir pra algum lugar que eu não tenho a mínina noção de qual seja e uma saudade de uma vida inteira, como se eu já tivesse vivido-a."

    Lindo!
    Foi o texto mais diferente que já vi sobre começos de ano e gostei muito. Não costumo gostar muito de fins, mas costumo ser prática quanto a eles. Principalmente em se tratando de ano novo, novas expectativas. Mas relutei em deixar 2010, que foi tão bom pra mim.
    Boa sorte nesse ano que chega pra você.

    =*

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  10. Amei Lindo
    O comeco eh sempre uma icognita
    hehe

    Beijos

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  11. Um novo ano recomeça e com tudo novo, surgem as novas oportunidades de ser feliz. Fica um grande beijo pra você! Ótimo domingo!

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  12. Feliz ano novo ;postagens muito boas, parabéns, estou te seguindo; me segue tbéem? http://najaracarrupt.blogspot.com/

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  13. Aqui estou eu, e confesso que também tenho uma relação desagradável com términos. Mas, o fim desse ano foi tão diferente para mim, não doeu tanto. Talvez, porque eu já tenha tido de me despedir de coisas valiosas em anos anteriores. Talvez porque o final do ano tenha me pegado de surpresa demais, impedindo que todo o receio, tristeza e saudade se formassem. Espero que o restante do ano seja bom pra você minha flor.
    E que as pessoas percebam que as vezes, a felicidade delas não é a sua, e que ninguém tem a obrigação de por um sorriso no rosto enquanto o coração está triste, ou inseguro, enquanto lágrimas cintilam nos olhos.
    Grande beijo, você é um amor Isa! E a sinceridade das suas palavras sempre me encantam.

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