Desculpa se te chamo de amor...

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Um Momento De Fantasia

Lembro a primeira vez que eu vi você. Eu tinha acabado de chegar, toda esbaforida, tava frio, mas eu estava com calor, por causa do atraso. O consultório estava cheio, e como não tinha aonde sentar, fiquei em pé encostada na porta.
De repente, você saiu, com uma camisa branca, uma gravata amarela com pontinhos roxos, um blazer e uma calça cinza, e essa sua barba por fazer. Deu um abraço na sua psicóloga e disse algo como "quinta que vem a gente se vê". Em questão de segundos, já tinha decorado sua roupa. Você passou por mim, me cumprimentou com a cabeça e um sorriso, abriu a porta, e foi. E eu fiquei ali, anestesiada com seu terno, gravata e barba.
Não precisou mais nada. Afinal, eu sempre, sempre e sempre me encantei com o pouco, com o que ninguém repara, com os detalhes. Há quem diz que eu sou exigente, que nada nunca está bom. Mas olha, moço, preciso te dizer: Se eu realmente sou assim, você também é realmente especial, por que me acertou em cheio. Não precisou de nenhum esforço, nada além de um "Oi!" e um aceno de mão.
O tempo passou rápido. Ou melhor, não houve tempo. De repente, eu já brincava em te chamar de velhote, e você a me chamar de pirralha e a me ensinar coisas que eu não sabia que existia e me mostrar o desconhecido. Às vezes você era muito quadradinho, e eu te chamava de pai, só pra te ver bravo e segundos depois, tirar toda a sua braveza com um beijo. A sua casa. Ah, a sua casa! Enorme, maior que tudo o que eu já tinha visto, e só você morava nela. Nos finais de semana ou feriados, eu morava lá também, ou brincava de me perder, não sei direito. Tinha medo de ir até a cozinha, e não saber voltar pro quarto, me perder. Mas seria bom se eu me perdesse, certo? Me perderia na sua casa, no lugar aonde você mora, aonde você dorme.De certa maneira, estaria perdida com você. Nesse caso, então, eu amava estar perdida.
E como sempre, você quis me surpreender. Comentou algo como ir pra Itália nas férias, em julho. "Itália, em julho, nós dois?" Foi o que eu disse, e você balançou a cabeça positivamente, com um sorriso nos lábios, o que também me fez sorrir. Nessa hora, enquanto levantei pra te dar um beijo, pensava dentro de mim "somos um casal, somos um casal, somos um casal...".E sorri de novo.
Tá vendo, moço, como você é, de algum jeito, especial? Eu estou sorrindo! S-o-r-r-i-n-d-o! Mais tarde, estávamos nós dois na sua cama, aquela macia e enorme, enquanto você assistia tv e eu te abraçava enquanto sentia um cafuné no topo da minha cabeça. Meus olhos foram ficando cada vez mais sem força, e eu dormi.
Acordei e eu estava na minha cama que é metade da sua e não tinha ninguém abraçado à mim, nem com as pernas entrelaçadas às minhas. Não existia a claridade do seu quarto quando amanhecia, nem sua roupa já separada fora do armário.
Também não existia Itália, nem sorrisos, e principalmente: não existia você. Quer dizer, existir, você existe. Quem não existe, sou eu. Não na sua vida, não na sua casa, nem na sua cama, muito menos num avião rumo à Itália. Não sou sua pirralha, e você, infelizmente, não é o meu velhote.

Um comentário:

  1. Sou capaz de ficar horas lendo o que escreves, mas basta um segundo para ler você. O que vejo escrito? sensível.

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